Carta do Vovo Haroldo aos netinhos!!!

Na vespera da chegada do Felipe, Vovô Haroldo nos presenteou com essa bela cronica escrita para os netinhos Biel, Lipe e Pepê... Obrigada pelas lindas palavras, Vovô!! Nós tambem esperamos que os meninos possam curtir com vc um pouco da infancia ludica, leve e livre dos tempos passados!!!

"Naquela tarde, após uma chuva torrencial, uma grande enxurrada simulou um verdadeiro rio na frente da minha casa. De repente eu já estava fazendo um barquinho de papel para me aventurar na correnteza como um verdadeiro marinheiro, me enlameando mais do que navegando, é verdade, mas realizando mais uma aventura oriunda da imaginação de criança, naquele inverno montesclarense.
Eram assim, de repente, que surgiam os diversos momentos verdadeiramente lúdicos da infância na década de 40, velhos tempos, grandes lembranças.
E já se vão muitos anos e o menino de então é agora avô, e com a chegada dos netos estas imagens de novo povoam a mente, trazendo de volta aqueles momentos alegres e, algumas vezes, pitorescos da infância longínqua.
Seria um retorno? Quais seriam os motivos destas recordações vivas?
Na verdade há uma sintonia com a chegada do Felipe e do Pedro, que formarão juntamente com o Biel, o “trio do barulho”.
As crianças de hoje vivem a época maravilhosa e encantadora dos brinquedos elétricos e eletrônicos, telecomandados e programáveis, como robôs, barcos, carros e aviões, com réplicas perfeitas em miniaturas que fazem da infância atual um mini-mundo quase real.
Mas diferente de hoje, o mundo dos meus tempos de criança era um mundo quase só de sonhos, onde tudo era irreal, e no imaginário à nossa guiza é que íamos tentando construir o nosso mini-mundo, mesmo porque os adultos daquela época quase não participavam, e aí reside a grande diferença que separa essas gerações, a possibilidade infinita e o privilégio da imaginação, de se inventar a vida em sonhos ilimitados e personificados.
Mas as crianças de hoje não são impedidas da imaginação, elas têm ainda a magia e o poder de criar o seu próprio mundo, entretanto na maioria das vezes elas já recebem prontos os personagens desse mundo imaginário, personagens estes criados por adultos que liberaram as crianças que havia dentro deles, e são assim os autores infantis e os criadores destes brinquedos maravilhosos de hoje.
Espero que os netos me reconduzam à infância não por regressão e sim pela progressão de idéias e sonhos.
Eu já estava mesmo sentindo falta de algo que não identificava claramente, mas de repente sinto que este algo era o resgate da criança que sempre permanece adormecida dentro de nós na vida adulta, esta vida repleta de obrigações, trabalhos e horários rígidos, quase tudo antinatural, porque inventado pelos homens, em suas sociedades repletas de regras e normas, lógicas ou ilógicas, e pragmáticas, e talvez por isso, cansativas.
Meus queridos netos, para viver a verdadeira parábola da vida, quando na velhice nos aproximamos mais das crianças, eu estarei me preparando para ajudá-los a sentirem, em toda plenitude, a felicidade de serem crianças e buscarei onde possa a energia necessária para acompanhá-los nas aventuras e peripécias que nos esperam, e, mesmo que não tenha o preparo físico que isto exige, eu estarei me reciclando nas ”academias” para atingir uma forma física no mínimo razoável e “não ficar mal na foto”.
Portanto querido Felipe, estou aguardando você, e juntamente com o Biel estaremos esperando também o Pedro, para que possamos praticar as liberdades que só às crianças se permitem.
Quem sabe se ao soltarmos a imaginação para além dos brinquedos que já são realidade possamos re-inventar uma infância personificada?"